sábado, 11 de julho de 2009

Atividades profissionais e culturais

Daniel Antunes Júnior, nascido em Espinosa, Norte de Minas, é bancário aposentado, administrador e fazendeiro. Jornalista amador, colaborou em diversos jornais e revistas da Capital e do interior. Como escritor, seu livro de estréia foi “Lençóis do Rio Verde - Crônica do meu Sertão“, publicado pela Editora Comunicação, com edição esgotada, sendo cogitada segunda edição, graças ao bom acolhimento da crítica literária e dos leitores.
Está lançando, pela Editora Lithera Maciel, o seu segundo livro, intitulado “Coração de Prata - Contos Correntes”. Como o próprio nome indica, é um livro de contos.
Fez diversos cursos de administração, inclusive nos Estados Unidos, (Saving and Loan) como bolsista. Desempenhou diversos cargos de executivo bancário, como diretor de estabelecimentos de crédito. Foi diretor das Associações Comerciais de Ponte Nova, Uberlândia e de Minas Gerais, da Abecip e do Pampulha Iate Clube.
Quando presidente da Caixa de Aposentadoria dos funcionários do Banco de Minas Gerais (previdência privada) elaborou um plano original para compra de automóveis - o consórcio até então inteiramente inédito - que hoje é largamente adotado e difundido em todo o Brasil, vindo, em conseqüência, a ser regulamentado pelo Banco Central e institucionalizado por leis federais.
Como genealogista por vocação, há muitos anos vem reunindo dados para composição e edição do Catálogo Genealógico das famílias Antunes e Tolentino, a partir dos ancestrais mais remotos conhecidos. Os Antunes, da estirpe do rabi Heitor Antunes, descendente dos Macabeus, que fugindo da Inquisição aportou e se radicou na Bahia, vindo em companhia do Governador Geral, Mem de Sá. E os Tolentinos, da linhagem do Alferes José Nicolau Tolentino , que foi integrante da esquadra francesa, comandada pelo contra-almirante Willaumés e o príncipe Jeròme Bonaparte, irmão de Napoleão, para uma invasão na Bahia, e por aqui ficou. Da Bahia e do Norte de Minas as duas famílias disseminaram -se por todo o Brasil..
O autor, com a categoria de Historiador, é membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, do qual exerceu o cargo de primeiro Vice-Presidente por dois mandatos; é membro da Arcádia de Minas Gerais e sócio correspondente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e do Instituto Genealógico da Bahia. Foi Governador Distrital do Lions Internacional e participa da Academia Mineira de Leonismo; foi eleito sócio efetivo da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, cargo do qual ainda não tomou posse.
Recebeu diversas condecorações:
Medalha de Honra da Inconfidência
Grande Medalha da Inconfidência
Medalha Santos Dumont - grau de prata
Medalha Santos Dumont - grau de ouro
Medalha do 150º da Revolução Liberal de
1842 (Gov.São Paulo)
Medalha Israel Pinheiro
Award to District Governor - Lions Internacional.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

LENÇÓIS DO RIO VERDE

Daniel Antunes Junior
Lençóis do Rio Verde, hoje município de Espinosa, minha terra natal, no Norte de Minas, fronteira com a Bahia, foi distrito do antigo município e comarca de Tremedal, hoje Monte Azul.
Referido distrito e termo judiciário daquela Comarca, desfrutava de uma aristocracia rural liderada pelas famílias Antunes e Tolentino, cujos patriarcas contratavam professores de fora, para proporcionar aos filhos e filhas esmerada educação, e ainda mandavam estes, em viagens a cavalo, a estudar em Diamantina ou em Botucatu, em São Paulo.
O coronel Heitor Antunes, era descendente do rabi homônimo, que se dizia da linhagem dos Macabeus e que aportou na Bahia fugindo da Inquisição, vindo a ser mais tarde vítima dela; e Joaquim Tolentino, descende do alferes José Nicolau Tolentino, que chegou ao Brasil como integrante de uma força expedicionária a serviço de Napoleão, para frustrada invasão da Bahia (pouco antes da vinda de Dom João Vl), e por aqui ficou, como desertor.
Esses dois pró-homens eram os expoentes máximos de referidas famílias e desfrutavam do maior prestígio, inclusive junto ao governo do Estado. Foram eles os responsáveis pela criação do novo município.
No distrito as coisas corriam bem, com sua economia baseada na cultura e beneficiamento do algodão, levado em fardos, em lombo de burros, às distantes fábricas de tecidos.
O algodoeiro era muito resistente à irregularidade ou falta de chuvas, a produção incrementava os negócios e a prosperidade alimentava o progresso.
Recorda-se que, com o advento dos teares mecânicos, da revolução industrial da Inglaterra, essa fibra têxtil natural, passara de uns 7% para cerca de 80% na manufatura de todo tipo de pano no mundo inteiro, ensejando, com isso, grande procura do chamado ouro branco.
Para beneficiamento e prensagem do produto, havia no distrito inúmeras máquinas puxadas a bois, pois ainda não contavam com motores a explosão, ou eletricidade.
Além do renome do notável escritor Antonino da Silva Neves e de Dom Lúcio Antunes de Souza, 1ª bispo da Diocese de Botucatu-SP, ambos de Lençóis do Rio Verde, este Distrito se destacava, em todo o extremo Norte de Minas, graças à atuação e reputação do Pe. Guilhermino José Tolentino, filho da terra, e seu vigário por mais de 48 anos.
Dois fatos significativos marcaram aquela época de ouro de Lençóis do Rio Verde.
Primeiro, a sede da Comarca foi transferida para o distrito; segundo, o governo do Estado, com o advento do automóvel, mandou construir uma das nossas primeiras estradas de rodagem, com toda a técnica da época, ligando Lençóis a Morrinhos, hoje Matias Cardoso, às margens do São Francisco. É que, para se chegar à Capital do Estado, dando uma volta enorme, os lençoenses iam de carro, ou a cavalo, até Morrinhos, lá tomavam o vapor que os levava até Pirapora, e dali rumavam de trem de ferro para Belo Horizonte.
O coronel Donato Gonçalves Dias, que era o poderoso chefe político em Tremedal, sempre foi absolutamente contrario à emancipação de Lençóis do Rio Verde - o mais florescente distrito da Comarca - e não fazia segredo disso. E o Pe. Guilhermino, que seria elemento chave para a sonhada emancipação, mantinha-se neutro e reticente...
O motivo era simples. O padre, que mantinha relacionamento cordial com Donato, tinha uma mulher teúda e manteúda e era pai de dois filhos com ela: o conhecido Tone do Padre e o Mário - este, provavelmente, por adoção. Embora isso fosse um segredo de polichinelo, Guilhermino receava que Donato, com a sua autoridade, o denunciasse junto ao bispo da Diocese, trazendo-lhe problemas.
A verdade é que Clemência, a mulher do padre, era recebida por toda a sociedade local como uma dama de respeito, sem qualquer restrição.
Mas um dia, por fas ou nefas, o bispo da Diocese o chamou a Montes Claros, para uma conversa e esta teria sido nestes termos:
- Chamei-o aqui, padre, porque soubemos que o senhor vive maritalmente com uma mulher. É verdade?
Guilhermino, que adivinhara de saída o motivo da convocação, com humildade, cabeça baixa, mas resoluto, respondeu:
- Esta indagação do meu bispo e senhor me deixa profundamente contristado. Se eu disser que é mentira, estarei faltando com a verdade; se digo que é verdade estarei faltando com o respeito a Vossa Excelência Reverendíssima...
- Meu filho, conheço o seu trabalho pastoral e as fraquezas humanas. Vá em paz. Fique com Deus. Mas é preciso muito cuidado, muita discrição...
Sentindo-se libertado de seus receios, o Pe. Guilhermino apoiou a emancipação. Mas os burocratas do antigo Departamento de Estatística do Governo impôs uma condição: que o nome do novo município fosse mudado para Espinosa, em homenagem ao bandeirante Francisco Bruzza Espinosa, que comandou a primeira expedição exploratória deste imenso território, dede o descobrimento. Sem outra alternativa para a realização do grande sonho, a imposição foi aceita. E lá se foi, espinhosamente, uma bela denominação, tradicional, evocativa e até poética!...
Bruzza Espinosa e o Pe. Aspilcueta Navarro realmente perlustraram a região trezentos anos antes da fundação de Lençóis do Rio Verde, e a trezentos quilômetros de distância dele.
Não foi somente Lençóis do Rio Verde que sofreu a ação pretensiosa, arbitrária, insolente, descabida e desrespeitosa aos fundamentos históricos da toponímia autêntica em nosso Estado. Na mesma fornada, os burocratas novidadeiros torraram impunemente os nomes tradicionais de Brejo das Almas, Calambau, Rio Preto e outros. Infandum!

APRESENTAÇÃO

Daniel Antunes Júnior é administrador, ex-bancário, atualmente fazendeiro e, nas horas vagas, historiador, genealogista e escritor no gênero de crônicas. Seu livro de estréia “Lençóis do Rio Verde – Crônica do Meu Sertão”, edição esgotada, está sendo cogitado para a segunda edição, tão logo venha a lume o seu já programado “Coração de Prata – Contos Correntes”.
Como historiador, está promovendo a restauração do Livro
do Tombo, manuscrito de 1819, que registra o patrimônio territorial do morgadio do VI Conde da Ponte, abrangendo cento e sessenta léguas de terras, que vão desde o Morro do Chapéu, situado na parte central da Bahia – Chapada Diamantina, até as nascentes do Rio das Velhas, em Minas Gerais.
Como cronista, já atuou em diversos jornais da Capital e do Interior, cogitando-se, igualmente, de enfeixar em volume especial, atendendo a pedidos, as “Crônicas Gorutubanas”, publicadas ao longo de sete anos.
Embora tenha produzido alguns sonetos (prefere o tipo italiano – o de dois quartetos e dois tercetos rimados) não se considera poeta, nem se sente à vontade com essa classificação. Entende que ser poeta é ter a inspiração e a virtuosidade que não contemplam, indistintamente, a qualquer versejador. E no sentido trivial e prosaico – quase depreciativo – “ser poeta” se equipara a ser visionário, algo quixotesco.
Ex-governador distrital do Lions Internacional, é membro da Arcádia de Minas Gerais, da Academia Mineira de Leonismo e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Eleito para a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, ainda não tomou
posse. (Nota de apresentação do ensaio publicado na Revista da Arcádia de Minas Gerais,intitulado “O Amor, a Amizade e o Casamento”)

COMO SOU

Comprazo-me de ser um homem normal, limpo, enxuto, de hábitos saudáveis.
Com efeito, não sou cego, nem surdo-mudo.
Não babo, não fungo, não tenho o bafo de onça dos pinguços, já que bebo com moderação, dando preferência aos vinhos, sobretudo os tintos e secos. Também não exalo o ranço sarrento da nicotina, pois não fumo. Não tenho chulé, não tenho cc ou catinga no sovaco, não tenho mau hálito. Não sou mofino, nem ladino.
Enfim, não fedo, sem embargo de que, como dizem, ninguém sente os próprios cheiros.
Posso até roncar, mas meu sono é leve e tranqüilo e me acordo logo, com o barulho do próprio ronco.
Não tenho hemorróidas, nem pé chato, nem tique nervoso.
Não sou lerdo, nem dorminhoco, nem sonâmbulo, nem desmemoriado, nem retardado, nem inocente, nem indiciado, nem culpado.
Não sou banguela ou dentuço, nem careca, nem cangalha, nem canhoto, nem corcunda, nem fanhoso, nem gago, nem daltônico, nem vesgo, nem zarolho.
Não sou gordo nem magro. Meu peso é normal, eis que tenho l,78 m de altura e há 30anos peso 78 quilos. Cintura 90. Apenas tenho uma barriguinha de veludo.
Como e bebo ao natural, sem esganação,isto é, não sou inapetente, nem edaz, nem guloso, nem voraz. Sou calmo e sei ouvir e calar de acordo com as circunstâncias. Minha voz tem o tom normal, sem aspereza. Quando falo, gesticulo o suficiente, sem afetação. Também não sou agnóstico, nem ateu, nem carola, nem fanático, nem descrente.
Não sou acanhado, nem assanhado, nem enxerido. Trago minhas unhas habitualmente aparadas, a barba feita e a roupa limpa. Já usei bigode, mas não uso mais.
Minha pele é clara e macia e meus cabelos, outrora castanhos, são lisos e soltos, não glostorados ou empapados.
Gosto de tomar banho, de ver as estrelas, dos perfumes discretos, das flores, das frutas, da chuva, da música, das mulheres, dos cães, da amizade e da sinceridade, da cor verde, das minhas coisas, sem ser demasiadamente apegado a elas.
Mas sou conservador. Há 50 anos moro em Lourdes, à Rua Felipe dos Santos, 42, e com a mesma mulher.
Creio que a minha família é a melhor do mundo.
Desfruto de boa memória e aprecio as pessoas inteligentes.
Não me considero inferior a ninguém. Tenho a mente aberta, mas não tenho o corpo fechado e sou alheio a superstições. Acho bom espirrar, às vezes estrepitosamente, mesmo sem uso do rapé. Mas não acredito que, ao fazê-lo, estou espantando o capeta.
Não sou tão jovem como fui, nem tão velho como espero vir a ser.
Enfim, gosto da vida e, quando partir desta para outra, sentirei saudade dela. Creio que este mundo é o melhor de todos os que conheço...