domingo, 4 de outubro de 2009

A Mulata

Daniel Antunes Júnior
É notória a influência dos lusitanos pelas escurinhas. Isso ficou patenteado desde o tempo da colonização do Brasil. Por exemplo, o Visconde do Jequitinhonha, tribuno da mais alta categoria, era filho de um comandante português e de uma negra, possivelmente escrava.
O abolicionista José do Patrocínio, notável jornalista, também era pardo, filho de uma escrava alforriada e de um cônego português.
E o poeta satírico Gregório de Matos, filho de português, não perdoava uma negrinha bem apanhada...
Essa indefectível gamação dos portugueses pelas escurinhas da África tem servido para anedotas interessantes.
Contam que certa vez, para capturar onças que estavam dizimando o gado - sabendo que elas gostam muito de carne - mandaram fazer uma armadilha, colocando dentro dela algumas negrinhas, como isca. Na manhã seguinte, quando foram lá, o mundéu estava “assim” de portugueses...
O nosso saudoso amigo, deputado federal padre Pedro Maciel Vidigal, grande intelectual e pensador - uma das mais fulgurantes inteligências e culturas do nosso Estado - escreveu em seu livro “Minha Terra e Minha Gente”:

“No ano de 1788, havia em Minas Gerais mais de 175.000 escravos (homens e mulheres)... Entre eles, havia o raçador, o reprodutor que tinha como função aumentar, nas senzalas, o plantel de bons operários para qualquer tipo de serviço.
Para o ofício de paridoras, eram compradas negrinhas de 14 a 18 anos de idade, das quais, muitas vezes, usavam e abusavam os sinhozinhos e alguns de seus papais responsáveis pelo aparecimento de mulatas bonitas e sensuais que, com o máximo de tentação, ofereciam a eles (especialmente aos portugueses) o máximo de oportunidade para o pecado.
Foram elas, esquentadas na mais fogosa ebulição e desafiando os olhares lascivos dos garanhões, que inspiraram o poeta mineiro Renato Teixeira Guimarães, belíssimo soneto, digno de figurar entre os melhores da poesia brasileira e da língua portuguesa.
Para gozo intelectual e admiração do prezado leitor é que o transcrevemos a seguir.

MULATA! Flor estranha das senzalas,
Misteriosa rosa dos mocambos!
Tens dilúvios de amor na voz, se falas,
E incêndios de paixão nos olhos bambos.

Por tua fresca pele cor de jambos
Um cheiro quente de volúpia exalas,
Na cozinha, és mais fêmea entre os molambos
Que as brancas entre sedas pelas salas.

Freira de amor de carne hospitaleira,
Esposa oculta a que ninguém dá nome!
Noiva da mocidade brasileira...

Tu nos dá carne e fruto em nossa rede,
Eva trigueira da primeira fome,
Samaritana da primeira sede.
Tinha razão o Bispo Dom Frei Antônio de Guadalupe, (citado por Vidigal) quando exclamou: O inveterado costume da sensualidade destas Minas chega a cegar o entendimento.
A coisa atingiu tal ponto que muitas pessoas de bons costumes tinham vergonha de serem honestas e de retidão no procedimento e, logo, se afinavam pelo diapasão geral, admitindo que: Branca foi feita para casar, e negra para trabalhar. Quanto à mulata...(melhor é calar).”

sábado, 3 de outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009